segunda-feira, 10 de junho de 2019

Minha Homenagem Para Jorge Edmur Arruda, a Síbia!


Neste último sábado, 08/06, faleceu um dos maiores artistas da profissão de maquiador e cabeleireiro que eu conheci neste mundo afora. O Jorge Edmur Arruda.
Infelizmente a vida nos separa e cada um trilha seus próprios caminhos mas, a saudade vai ser uma eterna companheira trazendo lembranças para reviver momentos únicos e muito felizes. Quando temos uma relação de amizade pura, transparente e honesta com pessoas como o Jorge, a Síbia, a saudade é pra sempre mesmo!
Costumo dizer que estrela é o sol e assim mesmo, com toda sua grandeza e esplendor, é de quinta grandeza!
Mas, revirando minha memória, conclui que Jorge, que também atendia pelo nome “Sibia”, era uma grande estrela não só pelo talento e habilidade. Mas por sua gentileza, educação e nobreza.
Era um garoto da periferia que não tinha o menor constrangimento em dizer que tinha sido mecânico de uma oficina de automóveis antes de se decidir pela profissão Maquiador e Cabeleireiro. Profissão essa que ele desempenhava com grande maestria. O sucesso não era seu objetivo. Jorge, com uma aura de quem tinha brilho próprio, brilhava apenas por existir.
Auto didata, desenvolvia seu trabalho pela intuição e sempre acertava com resultados surpreendentes. Era um "escultor" detalhista e perseguia sempre a perfeição! Ele almejava isso o tempo todo. Consequentemente ele, cada vez mais, colecionava seguidoras como clientes mais importantes... a chamada "nata da sociedade capixaba". Coisa normal para o talentoso Jorge.
Com muita tristeza fui informado pela minha esposa Andrea, que tinha lido uma linda homenagem postada no Facebook escrita pelo amigo e colega de profissão Francisco Guasti.
Andrea também conheceu Jorge e, quando criança, ele cortava o cabelo dela.
Fui eu procurar na página do Francisco pra ler o que escreveu e vi ali um depoimento  de gratidão pela amizade e aprendizado e a convivência com o ser humano do mais auto quilate. Esse era o nosso amigo Jorge. Foi assim que o conheci!
Aos treze anos de idade eu trabalhava em uma loja de tecidos (Casa Marcos) na Vila Rubim quando um dia entra uma figura magra, alta com uma vasta cabeleira negra e um rosto intrigante. Era uma beleza única. Não se parecia com ninguém mais! Eu não conseguia parar de olhar. Jorge vestia uma bermuda de brim preta até os joelhos, calçando sapatos cavalo de aço com solado de borracha preto que era um misto de sapato social de bico quadrado com plataforma de uns cinco centímetro e salto de, mais ou menos oito, nove centímetros de altura, com meias tipo jogador de futebol com um leve grafismo até os joelhos que se encontrava com a bermuda bem justinha no corpo. Uma camisa de mangas compridas, num tom cinza, amarrada na cintura e uma bolsa a tiracolo enorme! Que figura inesquecível de extremo bom gosto. Um figura andrógina linda de se ver.
Essa foi a primeira vez que o vi, ele comprou cetim preto. Extremamente educado. Jorge voltou outras vezes, conversava pouco era muito objetivo comprava o que queria e dizia que era cabeleireiro e trabalhava na Rua Sete. O endereço era o que havia de melhor em termos de sofisticação em Vitória naquela época. Um dia fui lá no salão e ele cortou meu cabelo e conversando, me deu a informação sobre um amigo que costurava muito no bairro São Torquato. Porém, só confeccionava calças masculinas.  Esse costureiro, o Pedro, virou um amigo querido e costurava calças para mim, para muita gente que o apresentei e outros que indiquei. 
Pouco tempo depois eu comecei fazer desfiles de moda. Inicialmente a convite Jonaci Trevisan. Quem penteava e maquiava os modelos era um cabeleireiro que tinha um salão de beleza no Clube Vitória e se chama Augusto, mais conhecido como Maria Augusta, pois só se vestia de mulher. Augusto frequentava os eventos e a sociedade o aceitava normalmente com muita tranquilidade. Guta, para os mais íntimos, era especialista em noivas! Os desfiles eram feitos com casais de homem e mulher. Outra época né? Os modelos desfilavam as roupas sempre em pares. Um dia de desfile muito importante na Desportiva Ferroviária, a sociedade em compareceu em peso. Mas o meu horário estava apertado. Não dava para sair da loja, ir em casa tomar banho e chegar a tempo de passar pelas mãos do cabeleireiro. Minha companheira, que normalmente desfilava comigo, também estava com o tempo apertado. Nós não podíamos perder esse desfile. 
Foi quando eu decidi ir pra casa da moça, o meu par, e a maquiei, penteei e chegamos em cima da hora, no final do desfile fui "intimado" a ter uma conversa com Guta. Caramba, lá foi eu com o rabinho entre as pernas pronto para tomar um brigueiro. Para minha surpresa Maria Augusta super elogiou o que eu tinha feito no rosto e no cabelo da modelo e me convidou para tocar um salão de beleza que ela tinha na Praia do Canto e estava fechado porque sua demanda era muito grande no Clube Vitória.
Eu não pensei duas vezes, no outro dia eu pedi as contas da loja e dois dias depois estava atendendo no salão de Guta. As clientes foram aparecendo até que um dia, uma filha de umas das já clientes, disse que ia se casar e que queria que eu a arrumasse. Senti muito medo, mas topei o desafio.
O comentário foi geral e nos dias seguintes ao casamento eu recebi um telefonema, era uma jovem senhora que tinha um salão na Rua Duckla de Aguiar, mais precisamente instalado nas dependências do Instituto Helenos. O nome do salão era Camile Cabelereiros e a jovem senhora era a Marlene Camilo, uma craque no ofício. Me apresentei e tive que esperar um pouco porque estavam todos muito ocupados e eu fiquei ali olhando, Paulinho Bromenchenkel, o Beto, a Margozinha a Zelia. Fiquei encantado porque afinal, estava fazendo um trabalho sem escola. Eu era muito intuitivo.
E fiquei ali, passado, com a forma que eles trabalhavam
Eram várias manicures, várias ajudantes, um mundo completamente desconhecido para mim. Então a Marlene veio falar comigo: então você que é o Nahor? Eu te chamei aqui para te convidar para trabalhar com a gente. Já ouvi falar bem de você, se você quiser pode começar amanhã... Quase cai das pernas (rs...). Fiquei zonzo porque tinha um compromisso com Maria Augusta, mas ali estava a oportunidade de aprender com eles todos. Sai de lá, liguei para Guta expliquei a situação. Ela entendeu e disse "que você seja muito feliz e ganhe muito brilho porque estrela você já nasceu..." No dia seguinte, lá estava eu, fui um dos primeiros a chegar e fiquei o dia inteiro olhando o movimento, todo mundo trabalhando. Às 14 horas chega a estrela do salão! Jorge Síbia! Com quem tive o privilégio de trabalhar, lado a lado, durante quatro anos. Uma pessoa especial que não tinha a menor preocupação com a vida dos outros. Fazia questão de ensinar o que sabia sempre sorrindo. Adorava molhar os lábios com sua própria saliva, sensualizando o lindo mestre ... éramos um time maravilhoso. Foi a melhor escola que alguém poderia ter! Adeus querido amigo infelizmente depois que saímos da Marlene perdemos o contato e o tempo voa mas, você viverá num cantinho muito especial do meu coração, que Deus conforte a família e os mais próximos.